É no mínimo muito estranho se ver pelos olhos dos outros.
Pelos olhos dos nossos filhos, então?
Pode ser um choque.
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"Mãe, ela lembra você."
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O comentário veio de Paula, e não se referia à aparência.
A comparação era com o personagem de um filme que assistíamos numa tarde de domingo, de preguiça e sol, e que eu estava achando abominável. Não o filme, o personagem.
Em um momento do filme, inadvertidamente e sem nenhum preparo para tal, a mãe se vê pelos olhos da filha. Meu sentimento, expresso em palavras: "bem feito!".
"Como, afinal, uma mãe pode ser assim? Querer sonhar o sonho de seus filhos, decidir a rota de suas vidas? Que absurdo isso!"
E o olhar arrevesado de Paula, no tapete, me coloca na defensiva incontinenti: "EEEUUU nunca fiz isso! Nunca sonhei os sonhos de vocês!"
O "não, mãe, claro que não" acompanhado de outro olhar extremamente eloquente (embora indecifrável) me põe maluca. Como saber se ela está sendo honesta, se está sendo irônica, se está sendo generosa?
Então, no fim do filme, bem no finzinho, quando a menina fala de como será o mundo quando sua mãe partir, euzinha, do alto de minha modéstia ímpar, concordo: "é, filha. Tem tudo a ver comigo!"
Suspiros: "ai, mãe."
Pior.
Em alguns momentos identifiquei-me com a mãe.
Perdida, confusa, insegura, pateticamente solitária e cheia de sonhos, tentando acertar e errando, errando, errando.
Caraca! Não adianta querer ser perfeita, impossível!!! É da natureza humana ser imperfeito.
E por vezes, sou humana em demasia - com grande dificuldade em conciliar as diversas personagens que convivem em mim: a mãe, a mulher, a profissional, a irmã, a sonhadora, a filha, a amiga, a amante, tantas!
Tantos conflitos!
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E penso que, afinal, deve ser mesmo assim.
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Embora continue sendo um choque se vislumbrar através de outros olhos - principalmente quando são olhos que você gerou.