quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Poema



sinto, meus filhos
se só lhes deixo
palavras ao vento
retalhos (gastos)
de versos inacabados
dívidas de dúvidas
pra que vocês (a) paguem
(cem conflitos)
dividam entre si
(e transmitam aos seus)
a riqueza de espírito
(Valéria Tarelho)
...
Não sei quem é a autora, não tinha ouvido falar dela até este momento, quando me deparo com este poema no Livro da Tribo de 2009, nona página. Gostaria de tê-lo escrito. Como não o fiz, o reproduzo com o devido crédito. Serve de testamento para mim também.
...

domingo, 15 de fevereiro de 2009

"Mais um ano que se passa, mais um ano sem você..."



"... já não tenho a mesma idade, envelheço na cidade..."
Hoje é um aniversário.
Ao contrário de tantos outros, não há bolo, não há balões, não há docinhos, nem festa, nem alegria.
Talvez já exista um pouco de paz.
Talvez a dor já não seja tão grande; talvez, por ser companhia constante, já tenha me habituado a ela, talvez.
O que sei é que já posso me lembrar sem lágrimas - quase sempre.
Salvo poucas vezes em que sou pega de surpresa, ao som de 'fio de cabelo', num momento frágil, e aí não consigo mesmo segurar a onda - é tão forte sua presença, sua voz cantarolando, o som de seus passos no corredor, o seu sorriso ao pegar no pé de alguém que não dá pra segurar - e em silêncio as lágrimas descem.
Penso muito no senhor, paizinho, amiúde.
Não, não penso conscientemente nem deliberadamente.
Não penso na falta que me faz (apenas sinto) ou em como se foi.
Penso muito em sua vida, que foi um aprendizado pra mim.
Penso em todas as dúvidas e medos e anseios que o senhor teve, penso nos sonhos que sonhou e não pôde realizar, penso em tudo o que abriu mão por nós, penso em erros tentando acertar, penso na sua fragilidade não exposta, penso em como se sentia cada vez que os problemas batiam, em família, à sua porta.
Uma vez li, em algum lugar, que só conhecemos e valorizamos verdadeiramente nossos pais depois que eles se vão, e acreditava, do alto de minha soberba sabedoria, que já o conhecia e valorizava o suficiente, talvez até mais do que o senhor merecesse.
Meu Deus, quem sou eu????
Quem sou eu pra pensar em julgar o que o senhor merecia?????
Quem sou eu pra saber o que ia em seu coração cada vez que traçava passos em linha reta e o destino teimava em desviar para um lado, para outro, para trás?
Quem sou eu pra saber de seus medos, suas angústias, quem sou eu senão a filha mimada e egoísta que só via seu próprio umbigo, achando tolamente que o mundo girava em torno dele???
Ah, Deus, como era certo o texto que li!
A falta, a saudade, a certeza de não poder mais partilhar momentos alegres ou tristes, tudo isto redimensiona nossa visão, nossos conceitos, nossa fé.
Hoje faz um ano que o senhor partiu.
E hoje sei que queria ter tido mais tempo pra estar junto, pra conversar, pra colocar no colo, pra pedir colo.
Hoje sei, com toda certeza do mundo, que tudo o que vale a pena na vida é o amor, e que é importante estarmos juntos àqueles que amamos, e não perdermos tempo brigando, discutindo.
Hoje sei mais que nunca o quanto o amei, meu pai, enquanto estava pleno de alegria entre nós, e o quanto este amor ainda é vivo dentro de mim.
E o que me deixa com um pouco de paz no coração é saber que, onde quer que esteja, o senhor sabe disso tanto quanto eu - sabe de meu amor, de minha gratidão, de meu respeito e de minha admiração.
Eu só queria ter tido sabedoria pra demonstrar isto enquanto estava ao seu lado - mas isto é algo que não dá pra mudar. E que vai me acompanhar pra sempre.
Assim como o meu amor, papai.
A foto aí de cima foi tirada logo depois do natal de 2007, momentos antes do San viajar de volta pra casa. Pouco menos de dois meses de sua partida.
O último natal em que estivemos todos juntos - e o senhor já estava tão frágil, papai.
Talvez fosse melhor não colocá-la aqui - mas é pra aplacar um pouquinho essa saudade, e essa dor de saber que momentos como este não vão mais acontecer.
Fica em paz, paizinho, onde quer que você esteja, com a certeza de nosso amor e nossa gratidão por ter nos proporcionado a chance de sermos quem somos, e por ter nos permitido ser tão felizes enquanto estava entre nós.