quinta-feira, 19 de abril de 2012

Eu, leão.



"Eu, leão, todo emoção, cheio de razão.
Eu posso, eu faço, eu aconteço.
Tá com medo?
Vem cá, repousa na minha a tua mão.
Encosta em meu ombro, descansa no meu regaço
- meu colo é porto onde acolho os amigos,
aqueço seu frio, ilumino suas sombras.
Eu, leão, dono de mim.
Cheio de razão, eu, leão.
Posso, faço, aconteço.
Protejo, guardo, revolvo segredos,
removo montanhas, resolvo problemas.
Eu, leão.
Dono de mim.
Eu, felino, cheio de graça, de raça, de manha.
Eu. Leão.
E meus medos, minha frágil essência, minhas dúvidas, ah...
esses, escondo. 
Porque sou leão, sou rei, soberano, sou sábio, sou.
E não me exponho.
Eu, leão.
Fragilidade pura e absoluta.
E só quem permito penetrar minha couraça,
quem vê sob a aparência, 
só estes percebem o quanto preciso de colo,
o quanto busco abrigo, o quanto...
eu, leão."

Variações sobre o tema...




"Como água e óleo.
Eu extravagante, você discreto.
Eu cerveja, você refrigerante.
Eu falante, você calado.
Eu impulsiva, você centrado.
Eu explosão, você quietude.
Eu arco íris, você céu azul.
Eu pop rock, você samba.
Mas no encontro, a química.
Minha pele e a sua,
o contraste e o encaixe,
perfeição."

Coreografia



A vida
evita
me olhar
de frente.

De soslaio
me fita.

Assim
traçamos
os passos
desta dança.

Desenho



Passo
a
passo
traço
os
rumos
do
meu
destino.

Mesmo
que
acabe
em
desatino.

Tempo




Arde,
em mim,
o desejo.

Do que não fui,
do que não fiz,
do que, não sei.

Arde,
e me consome,
na noite insone.

É tarde.

Teia




Frágil
teia
tece
o
tempo:
rompe-se
a
qualquer
momento.

Fim


Tanto tempo
tanto senso

pra quê

se a morte
é consenso?

Baile




Bailam
ao léu
borboletas
no céu.

Rima pobre
mas bonitinha...

Poema





"Uma canção assim
cheia de rima
cheia de cor

como um dia
cheio de sol

uma canção dessas manhãs
em que a gente acorda
e tudo é simples e perfeito

uma canção assim
traz seu sorriso no nome..."

Cerrado



No coração do Brasil, me sinto só.
Sob o sol,
sob o céu,
sob as estrelas.

No coração do Brasil, sigo a buscar.
Um rumo,
um prumo,
um motivo.

No coração do Brasil, sem inspiração.
Pra escrever,
pra sonhar,
pra viver.
(05/09/07)

sábado, 14 de abril de 2012

O dia da caça

Todo ano, já em meados de março, ela planejava o que faria para pegar a mãe no primeiro de abril. E sempre era muito criativa, sem poupar grandes produções, inclusive. E era muito difícil pegá-la no jogo que ela gostava tanto, porque estava sempre antenada e desconfiada.
O tempo passou, ela cresceu, teve filhos. E esqueceu a história do primeiro de abril. Só que os filhos cresceram. E aprenderam a se divertir com o primeiro de abril - e agora, ela era o alvo.

Domingo, 1° de abril, 2012.

O celular toca e é sua filha mais velha, que mora no interior, com o filho mais novo.
"- Mãe, o Matheus precisa falar com você. Liga pra ele, ok? Mais tarde, porque agora ele está fazendo um trabalho na casa de um colega, tá?"
Ela se lembra quando já está quase dormindo, e liga para o filho, pensando que ele precisa de grana.
"- Alô, Pessoa! Tudo bem por aí?"
"- Mais ou menos, mãe."
"- O que aconteceu, amor?"
"- Então, mãe... a Fulana (ex-namorada) esteve aqui ontem."
"- E?"
"- Então, mãe... ela está grávida."
Silêncio. Engraçado como ela descobriu que consegue, sim, calar ao invés de despejar todas as palavras que lhe vem à mente quando fica indignada. Ou revoltada. Ou.
"- Mãe?"
"- E???"
"- E aí que pode ser meu."
"- Como, pode? Ela saiu com mais alguém desde que vocês terminaram?"
"- Sim, mãe. Mas pode ser meu."
Silêncio. Um silêncio mais eloqüente do que qualquer coisa que ela pudesse dizer. O filho, do outro lado do telefone, não consegue se conter diante do absoluto silêncio.
"- Mãe, a culpa não é minha. A culpa é da Paula, viu?"
"- Você engravida a menina e a culpa é da sua irmã??? Como assim, me explica???" A voz, agora, denota toda indignação que está sentindo, a vontade de dar uns tapas, ainda um menino, fazendo faculdade, sem renda própria, sem ter vivido a vida, talvez grávido!!!! Ele cai no riso, o que a deixa mais indignada ainda. 

"- Primeiro de abril, mãe!!!"

Não, ela ainda não o encontrou depois disto. Está guardando os tapas pro encontro. E anda dando tratos à bola, porque afinal, ano que vem tem abril de novo.  





"Eu já quis que o destino me surpreendesse. Quis muito!

Hoje eu só espero que ele não me decepcione." 

(Caio F. Abreu)

domingo, 8 de abril de 2012

A marmelada e o Amigo Secreto

Participo de uma "comunidade virtual": todos nos conhecemos mas nem todos nos conhecemos, entende? Estamos espalhados por todo o país, convivemos amiúde por conta de interesses comuns mas nem todos nos conhecemos pessoalmente.
No natal resolvemos fazer um amigo secreto, e calhou que tirei uma pessoa de Curitiba, onde moro - alguém muito especial, que já conhecia pessoalmente, e por quem já nutria grande carinho. Fiquei muito feliz porque, conhecendo a pessoa, pude preparar um presente personalizado e que me divertiu muito confeccionar. Além disso, tive a oportunidade de revelar-me num encontro que fizemos no Bar do Alemão, por ocasião da visita de um colega de Brasília: cheguei antes e combinei um esquema com o garçom: ele traria para ela um bilhete, e se ela adivinhasse quem era seu amigo, o garçom traria o presente... senão, entregaria o presente pra mim. O mais legal é que meu presente havia chegado pelo correio naquele dia, à tarde, e pude partilhar com o pessoal que estava no encontro. E mais legal ainda é que, quando minha amiga chegou, estava toda animada porque também ela tinha tirado alguém de Curitiba, e ia aproveitar pra entregar o presente, pediu ajuda pra fazer suspense... e foi bem divertido porque primeiro contei do meu presente, depois ela entregou o presente dele com toda a pompa e suspense... e só depois dei sinal ao meu "cúmplice" pra deflagrar meu plano, que funcionou às mil maravilhas: ela nem imaginava que era eu!!!! Foi muito divertido - sem contar, claro, que estava um grupo bem numeroso e animado.
Agora resolvemos também fazer um amigo secreto de páscoa. Ao contrário do natal, desta vez foram bem menos participantes, treze ao total (adoro este número!). E adivinha só???? Tcharammmmm!!!! Tirei a mesma pessoa, fala sério!!! Dei muita risada sozinha ao ver a fotinho dela sorrindo pra mim no site do sorteio e pensando com meus botões "ainda bem que é feito por um robô, senão iam dizer que é marmelada!!!".
Fiquei pensando como disfarçar desta vez para que ela não desconfiasse, e ainda tive a ajuda involuntária de um colega que fez um comentário no mural do grupo - e ela pensou que ele a tivesse tirado!!!! Enfim, na segunda feira estava passando em frente a uma loja quando vi uma das opções que ela tinha sugerido pra presente, entrei, vi o preço, regateei um desconto e comprei logo, pois só tinha aquele par no tamanho certo. Um pouco mais tarde, no mesmo dia, ela me liga convidando pra nos vermos na quarta no mesmo bar do Alemão (ela é psicóloga, trabalha na mesma empresa que eu e é excelente observadora, percebeu que eu andava precisando muito conversar!). E marcamos então, eu, ela e outra amiga. Na tarde da quarta feira chega o meu presente pelo correio, acredita??? Verdade!!! Pensei na coincidência e decidi revelar à noite que era eu quem a tinha tirado - mas depois pensei que era muito muito óbvio e muito igual. E fiquei quietinha, nem levei o presente pra entregar. Enquanto estávamos lá mostrei meu presente, disse quem eu achava que tinha me tirado (acertei!!!!) e de repente ela pergunta, do nada: "e você, Lu, quem você tirou???". Fiquei parada, sem reação, olhando para ela e pensando "ai, meu Deus, como assim, quem eu tirei??? Como assim???". Ela fala "ah, pode dizer, vai... nem vai fazer diferença mesmo!", no susto digo o primeiro nome que me vem à cabeça e é justamente o amigo que havia me tirado... ela acreditou.

Depois me arrependi. Pensei que, se eu tivesse levado o presente, ia ser bem engraçado se, quando ela perguntou, eu tivesse sacado o pacote da bolsa e entregue... mas não deu, né? Aí, pensando na logística para entregar o presente desta vez, já que não estaria em Curitiba no domingo de páscoa, fui até a portaria do seu prédio, aliciei o porteiro como cúmplice e deixei pra que ele entregasse no domingo de páscoa. Então é isto, Grazi. Mais uma vez tirei você, e fiquei muito feliz. Você é uma pessoa que eu gosto muito e que faz parte da constelação que ilumina minha vida. Feliz páscoa, de todo coração. É muito bom ter você fazendo parte da minha vida.