quinta-feira, 9 de julho de 2009

Pensando bem...

Conheci a Bahia em 1996, num destes pacotes prontos: uma semana de praia, mar e tempo cinzento – março, época de chuva em Porto Seguro – e mesmo sem sol, me apaixonei.
O espaço, o mar aberto, a praia limpa, a falta de turistas propiciou um encontro transcendental, altos papos íntimos “de migo para comigo”. Voltei renovada para a correria do dia a dia em Foz, trabalho, calor, muita gente, mas...
“ê, Bahia-ia, Bahia que não me sai do pensamento, ai”... em 2003 surgiu a oportunidade de transferência para a ilha de Itaparica, “lugar paradisíaco a 40 minutos de Salvador”, como dizia o anúncio que me seduziu.
E como andava facinha, facinha, fui: eu, a filha de 16 anos, o computador, o cavalete de pintura e dezesseis caixas de mudança.
Ficaram a filha mais velha, começando a faculdade noutra cidade; o caçula, iniciando a experiência de morar com o pai, aos 12 anos de idade e amigos raros, dos quais trago saudade imensa.
E na Bahia, a de morar, não a de férias, alguns choques – uns básicos, alguns gritantes, uns sutis, outros hilários, alguns difíceis de lidar.
E a permanente questão: porque insisto? Outro dia, briga grande com uma amiga: “porque esse pessoal do sul é tudo metido a besta, pensa que é europeu!”.
Ai, ai. Ai, ai.
Que culpa tenho eu se é baixa sua auto estima? O que ela, que nunca saiu da Bahia, pode falar do “povo do sul”??? (Que aqui na Bahia é todo o território nacional do Espírito Santo pra baixo...).
Não vou entrar no mérito da questão, de quem está certo ou errado – até porque nem sempre há certos e errados, não é? Mas ontem um amigo a quem admiro muito começa com esse papo de “o povo do sul se acha”, “o povo do sul isto”, “o povo do sul aquilo”... ele, que já me confidenciou inúmeras vezes se envergonhar da educação dos locais, ele que vive suspirando por morar no sul (Curitiba é sua paixão), pra me molestar começa com esse papo besta, e a perguntar sobre os grandes expoentes da cultura nacional, quem são os grandes escritores, os grandes músicos, e começa a citar os baianos e acha que tudo o que é bom só vem daqui (um dia ainda paro pra fazer uma lista e esfregar no nariz de um ou outro metido a besta que me encher a paciência).
Me pego pensando nas diferenças – até que ponto são ruins, até que ponto são boas. E no que me faz permanecer.
O amor? Pode ser o amor – eterno enquanto dure, como dizia o poetinha (e está durando), e me faça feliz feito essa vida não faz (olha Leminski aqui! E está fazendo.).
O mar? “Quando vi o mar a primeira vez...”.
A inconstância do meu pensamento, do meu coração?
E porque, afinal, saber?
Permaneço, e pronto.
Apesar da falta. Da saudade dos filhos, da mãe, dos amigos. De hortaliças frescas, de educação, sei lá.
Sei que permaneço, incompleta e feliz.
Ou completa e infeliz.
Mas por opção.
Apesar.