terça-feira, 31 de julho de 2012

Dependência

Teu sorriso
amplo e irrestrito
vaza pelos olhos
pura poesia.

Teu sorriso é ópio,
cocaína, heroína.

Quero uma overdose
deste vício.

Morrer de você.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Declaração (sem razão)

Descubro que te amo...

E o aconchego deste amor é algo que transcende a realidade.
Instalou-se e permanece, inatingível, em meu íntimo.

Como nominar este sentimento?
Pode-se quantificar os grãos de areia,
a água do mar,
as estrelas do céu?

Assim o que sinto.

Intangível, apesar de tão real
quanto a luz que origina o arco íris.

Amo-te de um amor calmo,
aconchegante,
que quer e pede colo,
que acolhe, abriga e protege...

Amo-te de um amor claro e luminoso,
alegre,
livre e divertido,
que faz rir e faz feliz...

Amo-te ainda de um amor delicado,
que pede flores,
acende velas,
providencia músicas e aromas  no ar...

E quer sua companhia amiúde,
amado,
para em gestos sutis e apaixonados,
poder se revelar.

Não obstante, amo-te de um amor selvagem
fera no cio,
que morde e delira,
todo pele e cheiro e sentidos
e não se contenta
em não se fartar...

Amo-te de muitas maneiras
e, enfim, de uma só.

Amo-te um amor que não pede
razão de existir e
não busca explicações.

É, somente.

E fim.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Sentença

Falar de amor nem sempre
- quase nunca - 
é fácil.

O "eu te amo" não é fácil verbalizar.

Muitas vezes dizemos
como os olhos,
com gestos,
cuidados.

Mas nem sempre
compreendemos
a linguagem
sutil
que o outro usa.

Por isto, sem mais delongas,
encarei esta batalha que,
vencida,
me permite verbalizar o sentimento:

amo você.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Do fundo do baú















A noite toda,
olhos abertos na escuridão,
uma imagem na retina,
várias lembranças no coração.

Seu corpo, encaixe perfeito do meu.
Seus gestos, respostas precisas aos meus.
A coreografia que, sem ensaios,
evolui em movimentos harmônicos
sob a canção do nosso prazer,
que orienta os sentidos
na balada que nosso desejo entoa
e que fala, muito além do desejo,
da alegria que é amar você.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Goteira
















Dia a dia
ouves o som
não identificado
que incomoda.

No silêncio
pensas reconhecer
o ruído.

Não busque a origem.

Sou eu,
esvaindo-me aos poucos
do meu coração.


quinta-feira, 12 de julho de 2012

Brincadeira











O poema brinca
na cabeça do poeta.

Vai, vem,
traveste-se de insensatez.

Brinca com sua forma,
pura fluidez.

Cansa-se.

Desaba sobre o papel,
inacabado.


terça-feira, 10 de julho de 2012

Kamikaze

                                  O
                                voo
                             rasante
                         da memória
     sobre dias que se perderam no tempo.
   O voo  suicida de  quem se perdeu de si.
 O voo desatinado da solidão, inconcebível,
                         imensurável,
                          no meio da
                            multidão.
                            O último
                                voo
                          é kamikaze.

(da série *do fundo do baú em madrugada insone)

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Do fundo do baú

A saudade
do tempo
anterior
à consciência
de mim mesma
bate forte
dolorida
descompassada.

A tristeza
do perdido
do inatingível
do vazio
invade, súbito.

A incerteza
do futuro
dói n'alma.

A solidão assusta.

Tesão















Vontade de te abraçar,
aconchegar,
roçar, de leve, teu ouvido
com a língua
e descer os lábios.

Te descobrir a nuca,
morder o pescoço,
teu peito,
fazer cócegas
no teu umbigo.

Sentir tua perna
nua
na minha
entrelaçadas
teu corpo colando ao meu.

Um beijo molhado,
lascivo, indecente,
despertar os sentidos,
incitar o desejo.

Explorar teu corpo
e me deixar explorar.
Explodir o amor.


Do fundo do baú












Tarde vai a noite.

Cedo chega o dia.

Revolvo nos lençóis

o seu vazio.

sábado, 7 de julho de 2012

Traço
traços
sem sentido.

Troco
passos
sem sentido.

Tanto
espero
seu sentido.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Do fundo do baú

Ouço o som
dos passos
além da porta.

Coração na mão
vislumbro
o vulto.

Psiu!

Vem baixinho
para não despertar
meus medos
e assim
possuir o melhor
de mim.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Do fundo do baú

Tanto
tempo
sem te ver

tanto
tento
esquecer.

Tanto
tato
perdido

tentando
despertar
seu sentido

e nada.





quarta-feira, 4 de julho de 2012

Pergunta















Que sentimento danado de arretado é este,
me diga,

que me invade sem cerimônia, se abanca,
dono do pedaço e, ainda por cima,

pede um cafezinho?

Do fundo do baú

Um tempo
além
do tempo.

Um tempo
aquém
do fim.

Um tempo
sem
sentido.

Um tempo
sem
amor.

(*resgates)

Do fundo do baú...

Espero um amor
que me pegue
com gana
me jogue na cama
me faça delirar.

Quero um amor
de mãos rudes e doces
barba por fazer
que me ponha no colo
me arranhe inteira
me deixe dormente
de tanto prazer.

Mas veja bem, este amor
que entorpece
entontece
desvaria

este, que espero

tem que ser também
um amor
assim delicado
como na música de Caetano.

Porque o amor,
ah, o amor!

não tem fórmulas prontas:
agora é assim,
te pego no colo
te afago, te beijo,

depois é assado,
a pegada aquela do desejo
repentino
represado
explodindo.

O amor, meu bem,
não tem receita.

E o amor que desejo
é assim, inconstante,
irreverente,
inesperado.
Ousado e delicado,

Um amor sem fórmula pronta
que me conquiste
me domine
domestique a fera
que há em mim

e também
me aconchegue
me envolva
me afague
me proteja.


(Madrugada insone, fazendo faxina em papéis. Encontro uma pasta com algumas folhas escritas, coisa antiga, de quando não sei. Leio curiosa, e nem tudo acho que vale a pena. Mas não quero perder, é o que escrevi. Salvando aqui.)