quinta-feira, 25 de maio de 2017

Um detalhe quase original

Quase na virada do século - ops, do milênio - ela teve uma ideia genial para complemento de renda: uma empresa de telemensagens.
Detalhe Original, o nome.
Original, quando este era o negócio que pipocava em cada esquina?
Original, sim. Em sua concepção e execução.
O cliente ligava solicitando o serviço. Contava sua história com o homenageado: um fato específico, uma característica especial, algo único que gostaria de dizer. Com estas informações, era escrito um texto personalizado para aprovação. Que era lido em tempo real, com música de fundo específica escolhida para aquela mensagem especial.
Lembremos que eram tempos pré Google: necessário ter o aparelho de CD e a mídia com a música escolhida. Não, não era fácil. A vantagem é que o serviço custava cerca de 30% a mais do que as mensagens padrões com textos padrões e vozes melosamente padronizadas.
Tá, tudo bem.
Estas mensagens também acabavam por seguir certo padrão, também melosamente piegas. Ah, a gente tá falando de sentimentos, né? Pai, mãe, amores, não dá pra fugir de clichês.
Havia ainda a parte de mensagens ao vivo e a cores, senhoras e senhores. Com direito a fantasia e o escambau - o que é um capítulo à parte.
Completavam o cast da empresa, além de Mônica, amiga/sócia, os filhos. Que faziam desde panfletagem até criação e execução - viva a veia artística familiar!!!
Ela se orgulha muito da criatividade dos filhos.

Corta para domingo, nove de maio de 2017, dia das mães.
Ela está em casa, sozinha, se arrumando para almoçar com as filhas - o filho não pôde vir este ano. O telefone FIXO toca e ela se assusta. Será o Moacir Franco oferecendo plano funerário em pleno domingo de dia das mães? Mas ela lembra que uma das tias não migrou pra o universo móvel, e atende meio desconfiada, "alô?".

"Bom dia! Posso falar com Lucemary, por gentileza?"
"Quem quer falar?"
"Meu nome é Mônica, sou da telemensagem "Detalhe Quase Original" e tenho uma mensagem para ela".
A gargalhada pode ser ouvida no apartamento de baixo, e mal consegue falar, chorando de rir com a pegadinha muito bem sacada - que acabou sendo mais do que isto, obviamente.
Ao som de Kenny G - de longe o mais escolhido pelos clientes à época da empresa - seguiu-se uma mensagem original e, claro, piegas. Que a fez alternar entre o pranto e o riso, e se sentir originalmente especial.
Maya acordou sem saber bem como comemorar de forma marcante este dia e, numa sacada não menos do que genial, escreveu um texto lindo que foi lido pela colega do apartamento - coincidentemente, Mônica.
E trouxe de volta memórias indescritíveis de um tempo tão gostoso.
Viva a veia artística familiar!!!!
Ela é muito feliz pela criatividade - e senso de humor - dos filhos.