segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Que mundo Vucah, que nada

 Se este texto fosse um tecido, seria um patchwork - não é meu. É um "juntado de retalhos", um compilado de diversos outros tão interessantes que não conseguiria reescrever sob minha ótica. Assim, recortei o melhor de cada um pra trazer pra vocês.

E começo com uma frase que também não é minha (tá, eu sei), mas é muito pertinente: "é importante refletir sobre a dinâmica que cerca a vida de todos nós, meros passageiros temporários deste mundo em constante evolução." Isto porque nem bem fui apresentada ao mundo VUCAH - que, como percebem, ganhou um H de Hiperconectado, começo a semana lendo um artigo do Linkedin que o classifica como obsoleto.

"Substituído" por um mundo BANI - do acrônimo em inglês de BittleAnxiousNonlinear e Incomprehensible.


Segundo o futurologista Jamais Cascio, criador do termo, mundo BANI é a evolução do mundo VUCAH - em um mundo cada vez mais conectado, suas proporções se tornaram incontroláveis. E assim, obsoleto e insuficiente para descrever toda a aceleração de cenário e transformações que vivemos a cada segundo.


Viver num mundo hiperconectado faz com que fragilidades antes limitadas regionalmente repercutam por todo o planeta - vide o coronavírus. No dia a dia este risco se reflete na segurança alimentar, em empregos que podem ser perdidos do dia para a noite, em empresas que podem ruir a qualquer momento e em mudanças na lógica de mercado.


Neste panorama somos obrigados a entender que os impactos da velocidade e da volatilidade das coisas não estão em nossas mãos - há um mundo novo a nossa volta, e temos que encarar que nele ainda existem muitas coisas incompreensíveis.


Mas pergunto: existe, mesmo, uma diferença conceitual de um mundo "incompreensível" e "não linear" para um mundo "ambíguo" e "complexo"? O mundo é "ansioso" e "frágil" ou ele gera "ansiedade e fragilidade" por conta das "incertezas" e "volatilidade" dos acontecimentos?


O conceito mundo BANI passou a ser utilizado intensamente em 2020 tentando descrever a cena mundial atual, onde vivenciamos a necessidade de não perder o ritmo do trabalho, do estudo e da expansão do conhecimento, somado à limitação física de contato, num cenário de incertezas trazido pela Covid. Segundo Jamais, é como uma lente para entender o que está acontecendo no mundo e trazer respostas sobre como agir.


"Não é uma simples instabilidade, é uma realidade que parece resistir aos esforços para entender o que diabos está acontecendo. Este momento atual de caos político, desastres climáticos e pandemia global demonstra a necessidade de uma forma de dar sentido ao mundo, de um novo método ou ferramenta para entender as formas que essa era de caos tomará. Os métodos que desenvolvemos ao longo dos anos para reconhecer e responder às interrupções comuns são cada vez mais inadequados quando o mundo parece desmoronar."


Neste sentido urge ressignificar nosso entendimento sobre este mundo em que vivemos.


O futurologista explica que a fragilidade pode ser enfrentada através de resiliência e liberdade; a ansiedade pode ser aliviada por empatia e atenção plena; a não-linearidade necessitaria de contexto e flexibilidade; a incompreensibilidade pede transparência e intuição. Tudo isto pode não ser solução, e sim reação, mas sugere a probabilidade de se encontrar respostas.


Além destas características listadas por ele como necessárias para enfrentar os desafios trazidos pelo mundo BANI, a professora Paula Costa, da ESPM, destaca o propósito e a humanização; "Entre hoje e amanh]ao podemos precisar mudar tudo completamente... Mas nossa essência, aquele famoso motivo para acordarmos todos os dias, precisa estar muito clara. Também precisamos nos apegar às características que nos tornam humanos, como o autoconhecimento, a sensibiliade, o poder de conexão - até como um contraponto a essa acelerada digitalização."


Ela acredita que a ansiedade trazida pelo mundo BANI pode ser um estímulo para a ação e a queda de modelos que já não fazem mais sentido. "Com toda a desestruturação que o BANI causa, ele abre a oportunidade de a sociedade revisar suas estruturas que estão falidas e criar um mundo novo." Ela acredita ainda que o mundo BANI também traz um princípio de maior igualdade; "Ninguém está em vantagem em um cenário de mudanças constantes, em que todo mundo precisa aprender a reagir e a viver de forma diferente todos os dias".

 

"Não necessariamente o mais forte ou o mais poderoso vai ter a resposta, mas aquele que estiver mais antenado em todos esses movimentos do BANI."



Qual será a próxima terminologia para classificar o mundo?

O termo VUCA foi criado na década de 1980, mas só ganhou repercussão nos anos dois mil. O BANI, por sua vez, surgiu em 2018 e foi disseminado em 2020. Assim, há lógica em se questionar se já não existe um outro conceito em construção para o que está por vir. "Podemos ainda não ter um novo termo, mas a mudança não vai parar por aqui. Tem muita gente vivendo a pandemia como se fosse uma fenda no tempo, como se todo esse cenário fosse terminar da noite para o dia junto com a vacina. É muito importante entender que esses movimentos que a pandemia acelerou não tem mais volta."

 

Referências:

Facing the Age of Chaos“, artigo original de Jamais Cascio, criador do termo BANI.

https://www.projetodraft.com/verbete-draft-o-que-e-mundo-bani/

https://www.whow.com.br/global-trends/voce-conhece-o-mundo-bani/

https://www.revistaebs.com.br/artigos/do-mundo-vuca-para-o-mundo-bani/