sábado, 14 de abril de 2012

O dia da caça

Todo ano, já em meados de março, ela planejava o que faria para pegar a mãe no primeiro de abril. E sempre era muito criativa, sem poupar grandes produções, inclusive. E era muito difícil pegá-la no jogo que ela gostava tanto, porque estava sempre antenada e desconfiada.
O tempo passou, ela cresceu, teve filhos. E esqueceu a história do primeiro de abril. Só que os filhos cresceram. E aprenderam a se divertir com o primeiro de abril - e agora, ela era o alvo.

Domingo, 1° de abril, 2012.

O celular toca e é sua filha mais velha, que mora no interior, com o filho mais novo.
"- Mãe, o Matheus precisa falar com você. Liga pra ele, ok? Mais tarde, porque agora ele está fazendo um trabalho na casa de um colega, tá?"
Ela se lembra quando já está quase dormindo, e liga para o filho, pensando que ele precisa de grana.
"- Alô, Pessoa! Tudo bem por aí?"
"- Mais ou menos, mãe."
"- O que aconteceu, amor?"
"- Então, mãe... a Fulana (ex-namorada) esteve aqui ontem."
"- E?"
"- Então, mãe... ela está grávida."
Silêncio. Engraçado como ela descobriu que consegue, sim, calar ao invés de despejar todas as palavras que lhe vem à mente quando fica indignada. Ou revoltada. Ou.
"- Mãe?"
"- E???"
"- E aí que pode ser meu."
"- Como, pode? Ela saiu com mais alguém desde que vocês terminaram?"
"- Sim, mãe. Mas pode ser meu."
Silêncio. Um silêncio mais eloqüente do que qualquer coisa que ela pudesse dizer. O filho, do outro lado do telefone, não consegue se conter diante do absoluto silêncio.
"- Mãe, a culpa não é minha. A culpa é da Paula, viu?"
"- Você engravida a menina e a culpa é da sua irmã??? Como assim, me explica???" A voz, agora, denota toda indignação que está sentindo, a vontade de dar uns tapas, ainda um menino, fazendo faculdade, sem renda própria, sem ter vivido a vida, talvez grávido!!!! Ele cai no riso, o que a deixa mais indignada ainda. 

"- Primeiro de abril, mãe!!!"

Não, ela ainda não o encontrou depois disto. Está guardando os tapas pro encontro. E anda dando tratos à bola, porque afinal, ano que vem tem abril de novo.  

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