quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Ly, queridamiga, companheira e quase irmã,

Estou sentada à cozinha esperando que a máquina de lavar esvazie, para que eu possa abrir a torneira novamente (sim, ela tem problemas, é temperamental - se fica aberta a torneira, alaga a área de serviço). À minha frente meia caneca de café, duas revistas de pintura em tela e, apoiada no galão de água, uma tela em branco me olha. Permaneço contemplando-a, a decidir o que, afinal pintarei ali. Enquanto isso, meus pensamentos fogem em uma de suas viagens constantes, sem aviso nem sinal, param num desenho feito por você há anos - um bichinho charmoso com as mãos atrás do corpo, pelo qual me apaixonei incontinenti. E do personagem, claro, é um pulo pra você. E me lembro que, em menos de dois meses você completará 45 anos (tudo bem, não me esqueço que, inevitavelmente, chegarei lá primeiro!) e penso que poderia, de algum modo, enviar-lhe um presente que diga do meu amor e da minha amizade. E penso em talvez customizar uma camiseta pintando o Lully e colocando fitas, botões, sei lá - e mandar, via correio, pra você. Fatalmente me questiono se você gostaria, se usaria, como se veste hoje, que cores prefere neste momento da sua vida, que músicas embalam seus sonhos (sim, mesmo aos quarenta sonhamos, não?), o que faz nas horas de lazer, se continua desenhando (minha inveja absoluta de você - inveja boa, que fique claro!!!), se fala alemão, russo ou mandarim, se gosta de sentar-se só, com o pés sob o corpo e uma xícara de chá à frente e viajar, como eu, por lugares e tempos insondáveis, se plantou uma árvore, se escreveu um livro, se sente falta de filhos...
... e me dou conta de que hoje, afinal, vivemos mais tempo longe uma da outra do que o que passamos juntas, e percebo enfim a enormidade do sentimento que me une à você, e me questiono se um dia ainda nos encontraremos e sentaremos num boteco num fim de tarde tomando uma e olhando a vida passar... (re)descobrindo aos poucos a beleza da amizade que hoje é só um acalanto pro coração... falando de amores, de tristezas, de sonhos (realizados ou não), falando besteira ou mesmo partilhando o silêncio... quiçá um dia possamos.
A máquina parou, e já são 07:45 de uma manhã ensolarada em Valença, numa quarta feira, 22 de julho do ano da graça de Nosso Senhor de 2009 - e infelizmente ainda preciso me arrumar e ir pro trabalho porque não arrumei um marido rico, não ganhei na mega sena...
Mas pensando na distância e no tempo que nos separam, preparo aqui uma pequena lista de coisas que gosto e não gosto... pra que você possa ter uma idéia de como o tempo passou pra mim. Devolva-me a sua lista, ok? Pra que eu saiba também como o tempo passou pra você...
Do que eu gosto?
- de dias de sol (lembra quando a gente largateava no pátio da reitoria?)
- da feira de artesanato do Largo da Ordem em domingos de sol
- de almoçar no Bar do Alemão em domingos de sol em Curitiba
- de artesanato, de pintura, de reciclagem
- de andar nua pela casa
- de viajar
- de plantas pela casa
- de plantas no prato (amo salada!)
- do mar
- de ler
- de escrever
- de bom humor
- de deitar na rede na casa de Cloé olhando o mar e ouvindo o vento nos coqueiros
- de sentar no Boteco do Serginho com o Wan tomando Original e comendo costelinha de porco
- da família reunida
- de boteco com meus irmãos
- de quando eles ligam, bêbados, só pra passar vontade porque eu não tô junto
- de MPB
- de churrasco do Wan (com direito à trilha sonora sertaneja, claro!)
- de cozinhar
- de cantar alto junto com o som em manhãs de faxina da casa
- de jogar Imagem e Ação com meus filhos
- de jogar truco com meus filhos
- de jogar pôquer com meus filhos
- de qualquer coisa com meus filhos - gosto, amo estar com eles.
- de fotografia - fotografar, não ser fotografada
- de scrapbook
- de rever amigos
Do que eu não gosto?
- de mentira
- de pagode (tá, tudo bem, até danço... quando bebi umas...)
- de funk
- de frio
- de coentro
- de dormir com luz acesa
- de Salvador em dias de chuva
- de preconceito idiota (e sim, acredito que todo preconceito é idiota)
- de passar roupa
- de pessoas indecisas
- de pessoas que se acham
- de arrumar a cozinha após o almoço
- de sentir medo
- que me digam como agir
- de me sentir perdida
- de coração de galinha (nem fígado, nem moela, nenhum tipo de vísceras - e isso inclui sarapatel, fatada, xinxins e afins)
Posso pensar em muitas outras coisas pra colocar nesta lista... mas ela se tornaria ainda maior, e mais chata, e... melhor deixar pra quando estivermos juntas, em Barcelona ou Salvador, redescobrirmos...
Beijabraço grandenorme da amiga (de sempre),
Lu.

Um comentário:

  1. Olá, velhamiga.
    Adorei saber de você. E me sinto especial lendo essas linhas tao bonitas no seu blog.
    Minha resposta te está chegando por e-mail.
    Um beijao cheio de saudades.

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