quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Madrugada

Chove. 
Insone, penso na vida.
E na morte, sua única certeza.

Estou viva.
Acordo na madrugada, coração cheio de angústias, medos, incertezas.
E poucos arrependimentos.
Pra que? Se tudo pode acabar num sopro?

O momento presente é urgente.
Será que tenho demonstrado a todos que amo o quanto me fazem bem?
O quanto sou grata pelo privilégio de poder partilhar esta jornada com eles?

Será que, indo-me embora amanhã, minha mãe saberá em seu coração o quanto sou feliz por Deus ter me confiado a ela nesta vida? 
E o tamanho do amor que lhe tenho? E o quanto sou grata por ter sido a melhor que eu poderia desejar, desempenhando magistralmente sua função, fazendo-me feliz e guiando-me no caminho de meu desenvolvimento?

Será que, indo-me embora amanhã, saberão meus irmãos que por eles me tornei mais forte a cada dia? E que a nossa amizade foi,  tantas vezes, o único farol a brilhar na escuridão, me guiando sobre um mar de tristezas e angústias? 
Que sou muito grata a Deus pelo privilégio que é ter os três iluminando meus dias e acalentando meu coração nas vezes em que me senti perdida e só?

Saberão meus filhos que, desde sempre, os desejei? Os esperei?
E que não houve momento mais feliz, em toda minha vida, do que aqueles em que ouvi seu choro pela primeira vez numa sala de cirurgia? 
Saberão que a existência só passou a ter sentido depois de ouvir a palavra "mãe" de seus lábios? 
Saberão ainda que cada erro foi uma tentativa de acerto? E que o que eu mais tive, sempre, foram dúvidas? E medos de errar?
E que só entendi o significado pleno da palavra amor em seus sorrisos e abraços?

Será que meus amigos saberão, cada um, sua importância no meu caminhar? E o quanto sou grata por tê-los ao meu lado em trechos/momentos desta jornada maravilhosa? 
Saberão que a pessoa que sou traz um pedacinho de cada um deles, e a recordação de momentos cúmplices e amor sem horizontes? 
Sentirão que estiveram comigo a cada momento, a cada conquista, a cada lágrima, a cada sorriso?

Saberão, por fim, os amores que tive na vida, que cada um me fez melhor? 
Que cada momento juntos valeu a pena e que, de tudo, só lamento as mágoas que causei? 
Que desejava ter sido mais sábia, mais paciente, mais generosa com cada um? 
Que cada amor trouxe em si o meu desejo de que fosse o certo, o último, o "pra sempre"?
E que, mesmo que não tenha sido, um por um valeu a pena? E não me arrependo?

Ainda chove.
Insone, penso na morte, única certeza desta vida.

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