quinta-feira, 23 de abril de 2015

Da série Resgate - Um

Ela encontrou um caderno de capa amarela.
Escrito por ela. Há milhões de anos.
E começou a ler.

Leminski tem um poeminha chamado razão de ser.
"Escrevo. E pronto. Escrevo porque preciso."
Acho que é mais ou menos isto.
E é assim que acontece comigo.
Na verdade, muitas vezes nem sei do que preciso - mas preciso.
E esta necessidade transcende os limites, extrapola na pele, nos olhos, na voz.
Torno-me impaciente, inquieta, aflita.
Sem saber o porquê. E não quero que fiquem questionando, buscando razões.
Que deixem-me com minhas angústias inexplicáveis, meus abismos intransponíveis, minhas buscas infindáveis.
Que me permitam o tempo de processar este sentimento não identificado, que me deixem ir ao fundo e voltar. No meu tempo. No meu ritmo. Do meu jeito.
Que não me queiram impor atitudes, posicionamentos, ideias.
Como já dizia Quintana, "deixa-me ser o que sou, o que sempre fui, um rio que vai fluindo".
Que respeitem meu fluxo, que não queiram transpor meu leito nem modificar minhas margens.
Aceitar o outro tal qual ele é, com sua individualidade e particularidades, também é amar.
Respeitar o jeito de ser do outro sem o desejo de mudar sua essência também é amar.
Se querem me amar, me amem. Assim como sou.

(Março, 2008)

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