quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Caminho das Indias

Esta foi a novela exibida no horário das 21:00h pela Globo, de janeiro a setembro de 2009, e que relatava as agruras e alegrias da heroína Maya - que é também o nome de minha filha mais nova.

Paula, a filha mais velha, morava comigo na Bahia. Uma noite chego em casa cansada e acabada, quase nove da noite. Na cozinha, ela está envolvida com o preparo de uma comidinha gostosa (ela é muito boa nisto!), vou até lá dar um beijo e estranho a expressão de seu rosto.

"- Filhota, tudo bem?"

Silêncio, cheio de infinitas interpretações possíveis pela expressão que ela faz.

"- Filha, fala logo."

Ela me olha um olhar indecifrável, algo entre pena e choro contido, os olhos brilhando pelas lágrimas represadas, e ainda não diz nada.

"- É melhor eu me sentar?"

"- Senta, mãe. É melhor."

Meu coração disparou, parou, disparou novamente, senti o sangue congelar, o tempo parar, perdi a sensação das pernas... revivi, instantaneamente, a dor da perda recente de meu pai, a cabeça rodando a mil e pedindo a Deus que não fosse nada que eu não pudesse suportar, listando em um átimo cada membro amado da família, todos longe, cada um num lugar diferente, o que teria acontecido? Com quem? A voz veio num fio, meio sussurrada, meio "miada":

"- Não queria ser eu a te falar..."

Fiquei olhando em silêncio, o coração aos pulos, o sangue gelado.

"- Ah, mãe, mas não é justo, não é justo!"

Continuei estática, esperando a notícia que, a esta hora eu já sabia, não poderia ser boa.

"- Ah, mãezinha, não acho justo... todo mundo sabe, todo mundo tá falando, só a senhora ainda não sabe... não acho justo fazer isto com a senhora..."

Calada eu estava, calada continuei, esperando a bomba.

"- Mãe, a Maya tá grávida."

Como assim, grávida? Grávida? Mas a Maya não tem namorado, tá fazendo faculdade, como grávida? A Maya, grávida? Como assim, grávida? Estas palavras ficaram rodando na mente, no coração, na alma. Não me lembro agora se falei algo, se fiquei calada, se chorei. Acho que ainda estava tentando me encontrar depois do baque pra identificar o que estava sentindo, quando ouço:

"- E isto não é o pior, mãe."

Como assim, não é o pior? A Maya, sozinha em Curitiba, sem namorado, a Maya, tão menininha, no primeiro ano da faculdade, a Maya, grávida. E não é o pior?

"- Sabe, mãe, o pior... o pior é que ele fugiu."

Putz. Minha nenem, grávida, sozinha longe de mim, e ele fugiu. Que sacana é este? Ah, os homens, maldigo-os todos, o mundo gira, o tempo avança, mas algumas coisas não mudam... nem tenho tempo de verbalizar minha ira, minha revolta, Paulinha, na minha frente já não consegue se segurar:

"- Mãezinha, o Bahuan fugiu pros Estados Unidos!"

...

Esta é minha filha: além de muito boa na cozinha, excelente escritora e jornalista, é atriz impecável. E de criatividade ímpar! Só eu sei o que a Globo está perdendo.

Reparem no olhar de "arrá, eu vou aprontar!" da Paula.

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