quinta-feira, 23 de outubro de 2008


A idéia, aqui, era colocar sempre uma crônica de fatos reais, acontecidos no meu dia a dia.
Já há alguns dias não consigo postar, pensar, escrever. E hoje descubro o porquê: fazem oito meses, já, que meu pai se foi. Oito meses e ainda dói como naquele dia. Oito meses e sinto tantotanto a sua falta! E sinto tanta culpa. Oito meses, paizinho, e ainda não sei viver sem sua presença.


15/02/2008

Viajando atrás do carro que contém a urna funerária de meu pai, os pensamentos não param. Na verdade são mais velozes que os pneus dos carros que nos acompanham, e que o vento a soprar ao lado.Tanto, tanto, tanto por dizer, tanto por fazer, tantas lacunas descubro agora! Em contrapartida tantas montanhas removidas me vêm à lembrança! Tantos risos, tantos momentos mágicos, inesquecíveis, tanto colo, tanto aconchego...Não, não era santo, o meu pai. Como eu, como você, como qualquer um, era cheio de imperfeições, porém pródigo em qualidades... com um coração enorme, e colo sempre pronto a acolher e proteger...

Olho meu irmão, ao volante. Vamos todos, na última viagem em família. Falta Tati, sua "filha Tatelhana, que sempre foi tão bacana"... e que ainda não sabe de sua partida. E se isso for uma culpa, posso assumi-la sozinha. Nossa loira defende, neste momento, seu mestrado. São 14:07 min, estamos próximos a Jataí, enfrentando essa batalha, enquanto a loirinha enfrenta sua batalha pessoal pra depois se juntar à nós nesta dor imensurável, encarando essa partida.

Sim, sei que foi uma viagem anunciada. Sei também que nem toda partida precisa ser dolorosa. O problema é que, entre nossos defeitos, há o egoísmo. E mesmo sabendo que foi um até breve, um descanso talvez, não dá prá não sofrer. Pela ausência, pela consciência de não ter mais ali, ao alcance da sua voz, aquela pessoa tão amada e tão importante em sua vida.

Meu pai segue sua última viagem neste mundo, agora tranquilo, tendo ao lado minha mãe, que pranteia a partida de seu amor, companheiros de uma vida fértil e generosa.

Pai, vou sentir tanto a sua falta! Sei que onde quer que esteja, está melhor do que nos últimos dias. Prometo que não vamos sofrer e lhe causar sofrimento. Só o que precisamos, papai, é do tempo de chorar sua partida, e aprender a conviver com sua ausência.Por mais que não queira, a todo momento ouço sua voz, cantando "Carolina, Carolina, Carolina meu amor..." ou dizendo à mamãe "Bem, a fia é tão custosa! Porque ela teima assim??". Porque sou sua filha, seu Ney, com muito orgulho. E com o mesmo orgulho herdei tantos defeitos! Mas também qualidades, bem sei.Let it be, agora, no som. E me entristece ainda mais. Olho o Wan aqui ao lado, nariz congestionado pelo pranto silencioso. Como olhar este teu filho assim de perfil tão igual ao seu e não pensar neste vazio que já sinto em minha vida???Ah, paizinho, conversamos tanto, falei tanto com o senhor na noite em que ficamos juntos no hospital, e ainda assim parece que faltou tanto, tanto pra falar!!!O céu, fora do carro, é azul, azul. Cheio de nuvens branquinhas como algodão, que brilham ao sol. Branquinhas como seu cabelo. Parece que posso ouvir o silêncio em minha alma.

Quando o vô Nano foi embora, pensei que nenhuma dor pudesse ser maior do que a que me invadiu então.

Triste engano.

Um comentário:

  1. Mãe...
    Eu nem vou me dar ao trabalho de ler esse texto de novo...
    A senhora sabe como tenho estado nesses dias, e esse texto não ia ajudar muito...
    De qualquer forma, a senhora consegue expressar tanto nele...
    Acho que a senhora tinha que recolher seu material e lançar logo um livro!
    Te amo.

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