domingo, 2 de maio de 2010

Comemoração



"Parabéns, Lu. Você passou na Federal."
Isso foi dito tão tristemente, tão pra baixo, que não acreditei que fosse verdade. Eu estava em Maringá, hospedada na casa da tia de minha amiga Luciana, fazendo prova pra UEM. Chego da prova, último dia, e recebo a notícia, mas do jeito que foi, não acreditei. Não me toquei, na hora, que é porque Luciana, que tinha feito prova pra psicologia na Federal, não tinha passado.
Viajo à noite, e chego em Foz sexta de madrugada: rodoviária cheia, muitos amigos, cartazes, festa. Era verdade, afinal.
"Parabéns, parabéns!"
Agora com a alegria de pai, mãe, família, amigos, todos que torciam muito por mim.
"Churrasco hoje à noite pra comemorar!"
Meu pai não cabia em si de orgulho, de felicidade, de realização. A primogênita era também a primeira neta a passar no vestibular numa instituição federal, orgulho de toda a família, enfim.
"Filha, o que você quer?? Pode pedir!"
"Posso mesmo, papai? O que eu quiser?"
"Claro! Você merece!"
"Posso tomar um porre?"
"Pode!"
...
E assim foi. Trocentas cervejas e nem alterava-se minha alegria natural. "Que coisa é essa, que bebo e nada? Não entendo porque este povo gosta de beber, então!"
Aí acontece minha perdição: passa alguém com um big copo de caipirinha. "Experimenta, Lu."
"Hummmm, é bom", e viro o copo. E o porre chega num átimo. Rapaz, foi histórico. Eu brigando porque a Ju estava lá, e sabe-se lá porque cargas d'água eu não a queria ali, minha mãe tentando me acalmar, todo mundo feliz mas preocupado, e eu só queria papo com Helena. "Baixinha, eu te amo!" Banho pra melhorar e dormir? Só se a Baixinha cuidar de mim, mais ninguém. E claro, logo depois, apaguei.
Acordei no outro dia nova em folha, todos dormindo, limpei toda a casa, lavei a louça, lavei garagem, calçadas, e fui pra casa da Nadir (mãe da Ju, santa criatura). Depois pra casa da Vilma, até o povo todo acordar. E o dia foi assim, sem ressaca. "Que coisa é essa, que o povo reclama de ressaca e não sinto nada? Acho que posso beber sempre, então!"
...
Domingo pela manhã acordo e abro os olhos. O teto vem bater na minha testa. O dia todo enjoada, dor de cabeça, corpo ruim, ressaca é isso??? Não bebo nunca mais!
...
Claro que bebi outras vezes. E tive inúmeras ressacas - de alguns porres históricos, como o da noite de núpcias (rapaz, pode acreditar!). Mas o meu primeiro porre, ah, não dá pra esquecer. E agora descubro que Adriana, amiga querida que estava lá, tem fotos. Prá lembrar e matar a saudade - da adolescência, de pessoas amadas, do meu pai. Que foi o melhor pai que eu podia ter desejado no mundo.